Fiquem tranquilos, não foram os três gols do excelente Agüero que me emocionaram nesse dia 10 de setembro.
Rubén Magnano, esse é o nome do homem que fez desse sábado frio um dia muito importante para o esporte nacional. Não sou muito fã do Basquete, mas estavam engasgadas na garganta de todo brasileiro que gosta de esporte essas 3 Olímpiadas de fora, e a possibilidade de ficar de fora da 4ª seguida.
Quando foi escolhido para ser técnico da seleção Brasileira de basquete, Magnano não devia ter noção da roubada em que tinha se metido. Primeiro a resistência boba, burra e pseudopatriótica dos profissionais do basquete brasileiro que diziam que não precisávamos de um técnico estrangeiro. Depois, ele, campeão Olímpico, consagrado e ídolo em seu país, veio morar aqui e enfrentar uma batalha que envolvia muito mais do que as 4 linhas da quadra de basquete. Nosso esporte carecia de autoestima, de autoconfiança, e a pressão para classificar para as Olímpiadas de Londres era do tamanho de Shaquille O’Neal.
Na primeira entrevista que deu como nosso treinador ele já me “ganhou”, falou que estava se mudando para o Brasil e que já tinha contratado professor particular de português. Ali já provava que queria, e faria de tudo para dar certo nessa empreitada.
Porém, esses dois problemas que citei não foram os únicos. Além de um time sem autoestima, nossos “melhores” jogadores, aqueles que atuam na NBA relutam em jogar pela seleção. Uns com explicação, outros com desculpas que não enganam ninguém, mas o que interessa, é que motivadas ou não, eram ausências sentidas.
Vamos direto ao Pré-Olímpico, duas partidas mal jogadas, porém duas vitórias até encontrarmos a República Dominicana e perdermos. Jogamos mal, o time estava nervoso, já estávamos classificados, de novo aquela chuva de desculpas e desconfianças.
Só poderíamos perder 1 do jogo na fase de quartas-de-final para fugir da Argentina na semi. Ganhamos de Venezuela e Panamá facilmente, como não poderia ser diferente. E chegou o dia 7/9 e a toda poderosa Argentina, seleção da década de acordo com a FIBA. Em Mar del Plata, tudo bom, poderíamos perder mesmo um jogo, o negócio era não ser humilhante, como havia sido há exatamente um ano, pois no outro dia enfrentaríamos Porto Rico, e esse jogo sim, não poderíamos perder.
Um jogo emblemático, histórico e emocionante. Uma vitória inesperada e impensada. Ganhamos deles, ganhamos lá deles! Um pivô de sobrenome cheio de consoantes e que quase ninguém fora do meio do basquete conhecia parou ninguém menos que Scola. E cá entre nós, 73 a 71 foi lucro para eles, era para ter sido mais.
Sensação estranha aquela de quinta-feira. Queríamos comemorar, vontade de sair batendo no peito e dizer, “é nóis no basquete mano”, mas não tínhamos ganho nada. Quase escrevi um post após o jogo, tomado pela emoção legal da vitória. Mas me contive, o pensamento era simples “Que adianta ganharmos hoje e perdermos sábado?” Fiz bem…
Quinta entramos em quadra podendo escolher o adversário, Porto Rico que estávamos enfrentando, ou República Dominicana de quem tínhamos perdido na semana anterior. Mas nosso técnico não era o Bernardinho, não escolhemos adversário, escolhemos vencer. Que bom! Brasil saiu, quem diria, em primeiro e hoje enfrentaria a República Dominicana.
Que jogo difícil, que time forte e excelente embaixo do garrafão. Mas antes do jogo, os dominicanos fizeram algo que nunca vi dar certo. Encheram o vestiário de bandeirinhas e champagne…querido, ganha o jogo e depois comemora…
O jogo sempre esteve ali, empatado, 2 ou 3 pontos para nós, 1 para eles, mas o Brasil não fazia uma grande partida.
Eis que um jogador a quem já critiquei muito aqui pelo seu caráter, e que cujas críticas não retiro, jogou muito. Marcelinho Machado colocou de três as bolas que precisavam entrar, só de fora da linha foram 15 pontos.
Seria injusto, no entanto, depositar esse feito histórico em um jogador. Huertas fez um Campeonato sensacional, Splitter pegou um rebote decisivo hoje, além de ter jogado muito bem quinta, enfim, o maior mérito do treinador é justamente este, hoje não dependemos de um jogador, somos uma seleção, um time.
Não foi fácil, tivemos dois jogadores eliminados por faltas, mas a classificação veio, emocionante, difícil como se esperava que fosse. A emoção fluiu em todos durante toda a partida e explodiu no seu final.
Quando digo todos, quero dizer todos, todos jogadores, todos da comissão técnica, todos os que acompanharam agoniados pela televisão esse momento. Uma pessoa em especial se emocionou e emocionou a todos, Wlamir Marques, o maior jogador de basquete que esse país já produziu, bicampeão mundial, comentarista de primeira linha, não conseguia falar. Esse senhor vive e viveu o basquete sua vida inteira, e fez uma declaração digna de se guardar, humilde, impressionante.
Se eu não quis apontar nenhum jogador pelo feito, coloco todo o crédito desta classificação no técnico. Sim, ele tinha razão quando dizia que transformaria nosso jogadores em um time, ele tinha razão quando assumiu o que eu acima descrevi como uma grande roubada. Ele mostrou que eu estava enganado, roubada era fugir dessa desafio, e deixar de colher os frutos que hoje ele colhe.
Magnano que foi reiteradamente ovacionado nos ginásios argentinos pelos seus conterrâneos, Que souberam mostrar gratidão ao técnico que tantas alegrias deu ao esporte daquele país. Magnano que chorava sempre que ovacionado mas que ficou feliz como poucos com a vitória sobre a seleção argentina.
Magnano fez com que muitos brasileiros, e eu me incluo, se identifique mais com essa seleção de basquete do que com a da CBF. Não digo todos, mas quem realmente curte esporte, se emocionou mais com a Copa América de basquete do que futebol, tenho certeza.
Eu chorei, mas até aí não é novidade, convenhamos…
Junto com a classificação vieram perguntas já esperadas, e agora? E Nenê? E Leandrinho? E Varejão? Sabem o que eu acho? Deixem o homem decidir.
Rubén Magnano mostrou para quem quisesse ver que sabe o que faz; que entende de basquete dentro e fora das quatro linhas, tenho absoluta certeza que ele tomará a decisão certa. Alguém duvida? Muita gente duvidou dessa classificação, preciso continuar???